Entardecer do meu rio Jacuí...

Entardecer do meu rio Jacuí...
.. posso te afirmar que ¨contar histórias é trazer à baila, trazer à tona¨. Não é uma atividade inútil. Embora haja intercâmbio de histórias, quando duas pessoas trocam histórias como presentes mútuos, na maior parte dos casos elas chegaram a se conhecer bem.Alguns deitaram com a história e descobriram dentro de si mesmos e em profundidade todas as partes que se harmonizavam. Ao lidarmos com palavras e histórias estamos trabalhando com energia arquetípica, que é muito similar com a eletricidade.
Bem-vindo!

domingo, 26 de dezembro de 2010

O ano novo já vem!

Mais um ano se finda. Um novo ano começa.
Muitos nesta data escrevem sobre os desencantos do ano que passou e da esperança no ano que virá. Aquele bebê roliço e sorridente, banguela, de capa de revista, só de fraldinhas é extremamente comovente e nos passa mesmo a sensação de um ano novo promissor.
Mas quem já viveu como eu, muitos novos anos e outros que ficaram trás, tem que refletir sobre a criação e o motivo por estarmos aqui. Acho que tudo tem a ver com o amor. Essa tem que ser a diferença.
Estou aprendendo a amar. Muitos anos de vida, muitos casamentos, filhos, anos de convívio com o trabalho, com amigos, conhecidos, vidas e mortes.
Estou aprendendo a escutar, escutar com os olhos e ouvidos, escutar com a alma e com todos os sentidos. Escutar o que diz o coração, o que diz os ombros caídos, os olhos, as mãos irrequietas. Escutar a mensagem que se esconde entre as palavras corriqueiras, superficiais. Descobrir a angústia disfarçada, a insegurança mascarada, a solidão encoberta. Penetrar o sorriso fingido, a alegria simulada. Descobrir a dor de cada coração.
Aos poucos, estou aprendendo a amar. Aprendendo a aceitar as pessoas, mesmo quando elas me desapontam. Quando me ferem com palavras ásperas.
É difícil aceitar as pessoas assim como elas são e não como eu as desejo. Estou aprendendo a perdoar. Pois o amor perdoa, lança fora todo o medo.Apaga as cicatrizes. O amor não alimenta mágoas. Não cultiva ofensas com lástimas ou comiseração.
Como é difícil amar!
Todavia, tropeçando, errando, estou aprendendo.
Aprendendo a por de lado as minhas próprias dores, meus interesses, minha ambição, meu orgulho.. Como é duro amar.
Com o tempo tu vais aprendendo que para ser feliz com outra pessoa, tu precisas, em primeiro lugar, não precisar dela. Com o tempo a gente aprende a gostar de si mesmo, a cuidar de si e principalmente, a gostar de quem também gosta de ti.. ¨ O segredo é não correr atrás das borboletas.. , e sim, cuidar do jardim para que elas venham...¨ Simples, né?
Neste novo ano que se inicia, te digo que leia mais livros e assista menos tv. Um bom dia é aquele em que tu ris e também choras. Olha as pessoas nos olhos. Mantenha amigos por toda a vida. Não te preocupes com o que as pessoas estão pensando de ti. Sonha grande, arrisque, viva com alegria. Ama profundamente e com paixão. Admita os erros e corra a pedir perdão. Não procura te vingar. Paga o mal com o bem (o que é que tem?). Telefona com freqüência para tua mãe. Faz do teu lar um lugar alegre e de paz. Semeia com generosidade, pois da forma que semearmos, colheremos. Tua atitude e teu caráter são mais importantes do que tua aparência.
É tempo de nos abrirmos espontaneamente aos outros, trazer a beleza e a arte para a nossa vida, destruir todas as barreiras que nos impedem de amar, abrir todas as celas e cavernas onde prendemos aqueles e aquilo que amamos. Estes são meus votos de um Ano Novo e feliz! Seja feliz! E que venha 2011!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A gaveta

Ao abrir a gaveta
Tua foto me olha

enigmático.
Parece triste.

Será que és feliz?
Será que estás bem?

Teus olhos me seguem
Pela sala.
Cuida meus passos.

Abrir a gaveta agora, dói.
(20 dezembro)

( Essa é real, atual e encantadora).

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Haiti

O inesperado da tua chegada
tumultuou meu sono
naquela noite.

O poder da tua presença
encheu de respeito meu momento.

A tua fala direta.

A saudade que vi nos teus olhos.
Uma pequena sombra a esgueirar-se.

Imaginei teus passos leves
espiando o meu dormir.

O teu calor extenuante.

A luta para existir.

A tua figura gremista
sorridente e atlética
mexeu com o meu imaginário.

O Haiti é perto.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Atenção: frágil!

Tudo começa com um velho conhecido chamado stress. Ele é um coadjuvante com fortes chances de ganhar Oscar pela atuação. Somos obrigadas a produzir mais em menos tempo, ser encontradas a qualquer hora( dormir com o celular ligado) e convivemos com o fantasma de que, se vacilarmos, alguém ocupará nosso lugar. Todo esse cenário estressa. E pode desencadear um processo depressivo.
Hoje mostrar-se ocupado é importante, ter vida infernal é motivo de orgulho, enquanto manter um dia a dia sereno é coisa de acomodado. O ambiente competitivo favorece à doença. Quando a busca pelo sucesso deixa de ser prazerosa, o número de novos neurônios no hipocampo(região do cérebro que controla as emoções)reduz dramaticamente. Isso causa perda de memória e dificuldade de aprendizado e concentração.
Hoje estamos todas mais ou menos assim. Esquecimentos preocupantes, agendas lotadas, tudo escrito, celular apitando e avisando aniversários, hora no médico e dentista, lembretes importantes. Minhas amigas estão assim. Eu me vejo assim. E tome de Ginkobiloba, Omega 3, Vitamina C e outros bichos; será o Alzheimer?
Noutro dia fui ao médico acompanhar minha mãe e o neurologista fez algumas perguntas básicas(para ele, claro!) , " a sra. toma muito chimarrão?", " tem pressão alta?" , " toma muito café"? e ia anotando..., fiquei perplexa: chimarrão dá esquecimento? Ele me respondeu que é cafeína pura e aliado à vida moderna, um stress só...! Imagina. Disse que as pessoas ficam " ligadas" , estressadas, pilhadas e com um toque mais forte do som de palmas, trovão ou fogos de artifício, seus corações parecem querer lhes sair pela boca! Ansiedade. Azáfama.
Lembrei da Síndrome de Burnout( tão em moda atualmente), exaustão emocional, queda de rendimento no trabalho, ou seja, a um passo da pane. O corpo denuncia. Com dores musculares e de cabeça, distúrbios de sono, problemas cardíacos e gastrointestinais, elevação nos níveis de colesterol e glicose no sangue. Há também os sintomas emocionais. " Sensação de angústia, ansiedade, melancolia, cansaço e desânimo, raiva e solidão". Cruzes.
A maioria das pessoas passa por luto, tristeza, mas toca a vida. Basta se deparar com um estímulo positivo para reagir. Insucesso causa ansiedade e angústia, mas não caracteriza depressão. Mas daí, eu pergunto: como não ficar frágil?
Se a gente ainda pensa que tem que agir como um homem para suportar as pressões, evitando assim doenças que se originam no stress, temos que mudar nossos conceitos. São eles, os homens que tem que aprender com a gente. Essa história de liberação feminina, igualdade de condições e retirada de soutiens não pode nos condenar a abraçar tudo e todos. A mulher é frágil. Sim, é verdade que consegue fazer muitas tarefas ao mesmo tempo, que tem os neurônios mais desenvolvidos, mas por isso mesmo tem que apertar o botão de " stop"!
Não queremos mais ser iguais aos homens!

sábado, 30 de outubro de 2010

VOCE CONHECE UMA MULHER?

As mulheres sabem que dentro delas moram muitas outras figuras femininas. Algumas poderosas, outras frágeis, algumas velhas, outras bem jovens. Todas adoram falar.
Todas as mulheres conhecem a dor e nenhuma é estranha ao sofrimento.
Nós mulheres, um dia ou muitos, nos sentimos alheias a nós mesmas. E nos perdemos num mar de irritação, exaustas mergulhamos num lexotan, em copos de vinho numa banheira escaldante ou no mais puro desespero.Algumas sucumbiram, só algumas. Como resultado, carregamos no peito essa perda e reconhecemos com reverência o poder destes abismos.
Toda a mulher, mesmo as muito jovens, sabem que ser mulher é um desafio. E no íntimo desconfiam que vão passar um bocado de tempo provando coisas ao mundo. Nascer mulher, em boa parte do planeta, ainda é afirmar-se acima do destino biológico.
Todas as mulheres pensam que sabem amar. Mas o amor insiste em rir de nós. E desafia nossas desajeitadas tentativas de dominá-lo ou compreende-lo. O amor parece um gato que só para o nosso colo quando já nos cansamos de chamar. Mas que ninguém se engane, mal a gente acostuma com aquele calor macio e peludo e ele pula e volta para a vida.
Todas as mulheres tem medo. Medo do primeiro beijo, do primeiro encontro, do primeiro emprego, de casar, medo de não casar, medo do parto, da traição, medo de não conseguir, medo de envelhecer, medo de dizer sim. A cada instante, nossos medos podem nos fazer trancar os dentes, afinar o olhar e ousar no salto. Ou podemos nos recolher emburradas e encolhidas dentro de uma caixa de sapatos, onde ficamos olhando o mundo por um buraquinho.
Todas nós temos um sonho. Todas nós temos uma sombra. Negra e densa. E aquelas de nós que não ousaram encarar seus sonhos e seus caminhos, são fáceis de reconhecer: parecem árvores ressequidas e seus ramos balançam sem alegria. Quem se alimenta dos frutos murchos dessa árvore experimenta seu sabor ressentido e intolerante. Eventualmente a tempestade racha ao meio tronco tão seco. A mulher é antes de tudo uma agricultora de sonhos.
Todas nós sentimos uma vez ou outra uma vontade de parar de bater as asas na vidraça e aquietar a alma, é hora de construir um templo para acolher nosso ser feminino. Não se condene, não se preocupe, deixe fluir, fique feliz.

domingo, 24 de outubro de 2010

AS ESCOLHAS DE NOSSA VIDA

A vida real não é feita de conquistas efêmeras, mas de relações que estarão lá para sempre. Marido, filhos, família, são eles que vão ficar do teu lado quando a empresa onde tu trabalhas não mais fizer parte do teu dia-a-dia.

Emprestei meu carro e por isso tenho ido trabalhar de ônibus. Tinha esquecido de coisas tão simples e de tanta riqueza de detalhes, amizades, alegrias . As pessoas se conhecem, pegam o coletivo no mesmo horário, nas mesmas paradas. O diálogo é rico e impressiona porque todos somos tão iguais... Iguais em nosso erros, dores, fracassos, alegrias, falta de dinheiro. Fico ouvindo os ¨cacos¨ de conversas que me chegam aos ouvidos e me delicio com eles...
Na minha parada estão algumas senhoras que todos os dias estão lá naquele horário. Eu, quando chego apenas dou um bom dia e fico quieta; elas tagarelam e falam das faxinas na casa , dos filhos, da escola, do tempo, dos concursos e também dos maridos...
Ontem elas falavam sobre escolhas. Opções. Encruzilhadas. Deixar aquele emprego com salário bom , mas teria mais tempo para o marido e para a vida a dois.., mas ganharia menos..; teria menos prestígio e poder..
Lembrei que uma opção sempre gera uma perda e que escolher entre viver e morrer é livre arbítrio..Mas fiquei calada.
Eu, como quase todas as mulheres de minha geração, sempre acreditamos que deveríamos trabalhar fora de casa . ¨Seja independente, não dependa de teu marido ¨.. Mas, para conquistar nosso espaço lá fora , relegamos o emocional a segundo plano. Todas queríamos vencer como homens, ter poder como homens.
Não me arrependo. Tudo o que construí na minha carreira foi profissionalmente trabalhado e suado. Porém, se tivesse que dar um conselho , diria ¨vá com calma¨. . Não precisamos deixar o nosso universo para adotar o deles. Dá para incorporar o que há de melhor nos dois. E, principalmente, ouvir a nossa voz interior, que é o melhor guia.
Batalhamos para ter o que era de domínio masculino – e eles ficaram perdidos. Acredito que num relacionamento bem-sucedido há o meio termo. Mas para isso acontecer, a mulher deve deixar o homem participar do seu universo. E gostar disso .
Aprendi que amar é uma decisão, não um sentimento.
Esteja sempre preparado, porque haverá pragas, secas e excesso de chuvas, mas nem por isso abandone seu jardim. Por que amar nada tem a ver com gostar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Amor em tempo de inverno

Amor em tempo de inverno


Se a velhice fosse uma estação do ano certamente deveria ter flores como a primavera, teria frutos como o verão e dias azuis como o outono. Lamentavelmente, porém, se convencionou chamar a velhice de inverno, não sei por que. Assimilamos a idéia de que no inverno temos dias sombrios, cheios de neve e frio, sem praia nem sol, sem muito que fazer. Imagino que trazem melancolia, abandono, medo.
Foi assim que comecei a olhar para mim e para as outras pessoas ao meu redor que já haviam ultrapassado a barreira dos 50 anos. Vi pessoas que se tornaram pesos para suas famílias (e não me refiro aos doentes), mantendo exacerbados comportamentos de quando mais jovens. Postura macambúzia. Deprimidos. Insatisfeitos por terem envelhecidos com achaques e humores azedos. Ladainhas de queixumes numa espécie de prazer mórbido. Mas notei também a emoção de Cora Coralina, Drummond, Mario Quintana, Borges, percebi pessoas, que apesar da idade ter avançado continuavam participativos, alegres como nem todo jovem (ah, como existem jovens displicentes, emburrados, ¨velhos¨ ). Mas veja a alegria dos roqueiros Rolling Stones!
Pesquisas comprovam que a felicidade da juventude retorna na velhice. Bem menos tranqüila é a faixa dos 40 anos, cheia de ansiedade pelos sonhos ainda não realizados, medo do futuro, incidência maior ao estresse e depressão.
A imagem do inverno surge para combinar com dificuldade, solidão, medo, fraqueza. Não temos esquilos no Brasil, mas eles, com sabedoria, armazenam nozes no inverno e isso me pareceu sabedoria da natureza, é necessário também preparar-se para a velhice. Vale pois, observar a lição dos esquilos para se preparar para uma idade serena, sem fantasias escuras. Se um esquilo falasse diria que é inevitável não se preparar para a estação mais fria, pois mesmo que a primavera e o verão pareçam durar para sempre e que o outono seja apenas uma estação amena, de muita brisa e folhas secas, indubitavelmente o inverno chegará. E se o inverno vai chegar por que não se preparar para ele? Se vamos envelhecer por que fugir disso até descobrir que estamos velhos?
Que tipo de idoso tu te preparas para ser? Muito chato? Prepotente? Ranzinza? As outras pessoas são como espelhos, de alguma forma elas refletem o que somos. Dizer ¨eu sou assim e não vou mudar¨ é como jogar fora uma noz que poderá alimentar um esquilo em tempo frio.
Um galope contra o tempo para restaurar, corrigir, manter, conviver e se aborrecer por não ter feito nada antes. Isso inclui hábitos saudáveis de higiene pessoal, íntima e ambiental. Ninguém muda na velhice, apenas acentua grandemente o que sempre foi e antes não podia manifestar.
Os interesses são muito importantes: a música, a leitura, fazer palavras cruzadas, trabalhos manuais, gosto por animais.. Pode parecer depreciativo ver idosos jogando dominó ou damas nas praças, mas eles estão muito mais ativos do que aqueles que apenas limitam-se a observar.
Ser idoso não significa ser alienado. Dê preferência por coisas vivas (pássaros,cães, gatos, plantas..) ou coisas úteis como tricô, marcenaria, bordados,crochê, presenteando amigos e parentes. Interessar-se pela informática, mergulhar nas aventuras dos e-mails, msn, orkut, podem iluminar o inverno e é ótimo para quem tem problemas de locomoção. Ler um livro, fazer uma caminhada, ver televisão, viajar, renovar-se. Tudo vale a pena para que a alma não envelheça e se torne pequena. Para encontrar a paz não existem caminhos, e sim caminhantes. È bom fazer as pazes com Deus antes que o inverno chegue, reconhecer que Ele existe, que Ele ama e ampara a todos, mesmo quem reluta em encontrá-lo. Para encontrar sua alma não precisa nem fazer de Deus uma mania e nem da igreja, um esconderijo.
E por que não amar em tempo de inverno? O amor não depende de idade nem da perfeição física. Com mais idade, muitas vezes descobrimos que o amor é bem melhor e mais feliz agora do que quando nos angustiávamos com o ¨tipo ideal¨. Descobrir que o amor nada tem a ver com celulites, barriga de tanquinho e sim, com companheirismo, bom humor e muito entusiasmo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O que os homens sentem quando estão apaixonados

"..de repente ele compreende o sentido da vida, consumido por uma mistura de felicidade e dor.."

" desespero e prazer, um homem louco de amor pode esquecer a comida, os amigos e até o futebol!!"

Sei que pode parecer estranho. A maioria dos homens não se comporta de forma romantica ou sentimental. Tu não vais encontrá-lo folheando revistas de noivas ou soluçando enquanto assiste " e o vento levou..." .
Mas essa postura controlada não significa que eles não sintam, lá no íntimo, todas essas emoções.
O amor é uma coisa esplendorosa. E também dolorosa, terrível, hipnótica, desesperada e incendiária.
É coisa de macho.
Porque quando um homem se apaixona é com tanta intensidade quanto as mulheres. Se não for mais.
A grande diferença é que o homem disfarça seu sentimentalismo com um verniz de descaso machista. Isso porque é inadmissível chorar, ou suspirar, na frente dos amigos. Quando ele se apaixona, fica tão deslumbrado quanto os adolescentes - mas jamais confessa aos seus amigos. Ele pensa que os parceiros ririam dele se dissesse que alguma coisa o atingiu quando a viu num vestido vermelho. O sorriso dela derreteu aquele coração machista. Verdade. Ele tinha todos os sintomas de um flechado pelo Cupido : boca seca, sem apetite, o tempo para.. Essa estranha sensação é muito comum em homens apaixonados.
Ele se chamava Paulo.
" Quando conheci vera, fiquei entorpecido. O tempo parou de fazer sentido. Eu via as pessoas cuidando de suas vidas, enquanto eu, flutuava. Me vi no MacDonalds, olhando o nada, pensando nela, sem roupa, quando notei a irritação da fila que se formava atrás de mim..."
Parece familiar.
" Durante 11 meses de paixonite pela garota de vermelho, me senti como num sonho. E foi maravilhoso. A realidade da vida trivial parecia insuportável. Eu só pensava nela. Numa oportunidade quando ela viajou, saqueei seus pertences e encontrei um casaquinho, fiquei cheirando só para me lembrar da presença dela" .
Será isso ridículo ou extraordinariamente delicioso?
É assustador.
Quando os homens se apaixonam, eles se sentem nulos, paralisados. Ficam bravos por sentirem-se indefesos, sem nenhum poder sobre suas vidas. Ficam castrados, perdem a virilidade. As chamadas características masculinas , o interesse pelo futebol, boxe e promiscuidades, por exemplo - desaparecem completamente. Subitamente obscecados por flores, poesias e higiene pessoal - qualidades que são francamente alienígenas para eles.
Quando os homens se apaixonam é devastador. Todo aquele cinismo, aquela coisa de que amor é frescura, desaparece.. E eles passam de durões, donos da verdade a derretidos e cafonas, capazes de assumir todos os clichês dos filmes água com açúcar. Passeiam de mãos dadas, passam a procurar uma música romântica no cd. Sentem-se nobres, superiores e únicos na face da Terra.
Os homens vivem para encontrar o amor.
Apesar de toda dor, angústia e a tempestade que um relacionamento pode provocar, todos querem esse sentimento de volta.Recordam cada detalhe do amor.
É como um banho de chuva depois da estiagem.
Recomeçar.
Voltar a amar.
Viva os homens apaixonados!
E feliz daquela mulher.. que gerar esse tipo de sentimento num homem. Com certeza, ela é especial!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Atos, fatos e retratos

Uma vez ouvi a história de uma mulher que juntava sementes. Sempre que saía a passear ou viajar levava com ela o saco das sementes. Ao passar por estradas, porteiras, campos, canteiros, campinas e cidades, lá estava ela a jogar pela janela do carro, seus punhados de sementes. Sementes de lírios, dálias, avencas, crisântemos. Tudo misturado e jogado ao vento. Com certeza muitas pereceram pelas intempéries, pelas pedras, asfaltos, mas outras tantas germinaram e encantaram os olhos dos viajantes que olhando o serpentear das estradas depararam-se com flores e frutas plantadas ao lado das estradas e caminhos. Quando viajo e não estou dirigindo, gosto de estar quieta, só com meus efervescentes pensamentos, olhando tudo e confesso que em muitas oportunidades pensei : “ quem será que plantou esse pé de laranjeira à beira do caminho? Será que passou novamente por aqui e se deu conta da grandeza do seu ato?” Meu pai sempre respondia meus questionamentos infantis e nas viagens me dizia por que tinha tantos pedaços de pneus às descidas íngremes e por que haviam frutas nos acostamentos; dizia sempre que as pessoas viajavam comendo frutas e jogavam sementes pelas janelas, assim nasciam pés de bergamoteiras, pêssegos e butiás. Novamente as sementes.
Hoje minha colega Izabel falou que tinha acontecido algo inusitado no dia anterior , um senhor bem apessoado e falante tinha lhe dado duas folhas de papel com uns escritos muito instigantes; ela os leu e devolveu-os, ele então disse , “ fique com eles, leia novamente e os repasse para outras pessoas” . Sementes de novo. Agora eram sementes de sabedoria, perdão e paz. Que alma gentil. Pessoas com grandeza de alma e espírito. Ao invés de criticarem o mundo e às pessoas, levavam flores, frutas e palavras de conforto jogando-as ao sabor dos ventos.
Lembrei então de outro exemplo maravilhoso que vi numa cidade do interior gaúcho onde para comemorar a feira do livro, pessoas colocavam livros sobre os bancos das praças da cidade; outros que ali sentavam, liam e deixavam no mesmo lugar para que alguém que os sucedesse também pudesse deleitar sua alma ou então até levar para presentear pessoas que já havia elencado como merecedora ou necessitada daquele carinho. Sementes.
Se o teu jarro está trincado e por ali gotas preciosas de água caem ao chão, não te importa. Pensa que todas as vezes em que vais por dia ao rio buscar tua água, um caminho de flores se abrirá , pois ao regares a terra, ela se abrirá e te presenteará com flores de belíssimos aromas e tons.
Pensei na parábola do semeador, minha preferida, não importa onde joguemos as sementes, debalde o sol ou a chuva, a terra ruim ou a erva daninha, o vento e a tempestade, Deus nos designou semeadores e ao semeador importa apenas semear.

“No espelho mágico da natureza da vida, no interior e exterior de tudo, descobrimos nossos atos. Em nosso espelho real, em nossa vida pessoal, física e individual, conhecemos o nosso retrato e com essa revelação justificativa: o que fazer, e agora, não ata e nem desata? Se tens algo errado em tua vida, aproveita o precioso tesouro do tempo que tens e te retrata” (Obrigada Sr. José Luiz Farias pelas sementes com que brindou a sua cidade)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cães em dia de chuva

Fazia muito calor no interior do carro, abri uma nesga do vidro propiciando que o vento circulasse enquanto o veículo avançava rumo à cidade de Santa Maria. As árvores passavam rápidas como se borrões verdes fossem , quase horário de almoço e a fumaça saía de algumas chaminés das casas ao longo da estrada.
Dentro do carro um silencio total. Procurei o botão do rádio, mas logo percebi meu ato falho, não estava em meu carro. Estava dirigindo uma viatura policial, elas não possuem rádios de AM/FM.
No banco traseiro outro colega policial e um adolescente sendo levado para a FASE (Fundação de Assistência Sócio-Educativa) ou no entendimento popular: FEBEM.
Disfarçadamente olhei para ele através do retrovisor. Magro. Cabelos grandes, crespos e mal-cuidados.Roupas largas. Um prenúncio de barba em seu rosto, mas o olhar, ah o olhar chamava a atenção, olhos pequenos de cor marrom, emoldurados por olheiras escuras, mas não transmitiam nada. Vazios.Distantes.Perdidos.Indiferentes. Olheiras oriundas da pedra. Maldito crack.
Imaginei-o com sete ou oito anos, brincando com um caminhãozinho atado por um barbante numa rua lamacenta, só de calção, mas feliz. Com olhos expressivos e vivazes. Maldita pedra. Lembrei que o conhecia desde pequeno (tinha um irmão mais velho já no crime) e seus olhos eram vivos, iluminados e felizes, debalde sua condição social .(Depois dizem que é a miséria que muda o mundo e suas crianças; que nada, o que mudou o mundo foi a pedra de crack, ser pobre nunca significou desgraça, inconformidade, não somos dalits!)
Em seu currículo, muitos furtos e a suspeita de que já pratique assaltos, baixa escolaridade, nenhum curso técnico e nenhum sonho para sonhar. Só indiferença.
Já repararam nos olhos das crianças e adolescentes que perambulam pelas ruas? Olhe somente os seus olhos. Não se perca na sua roupa e no seu estilo ¨ tô nem aí ¨, olhe os olhos destas crianças.
Se eu fosse político e votasse leis, me deteria a olhar os olhos das crianças da minha cidade. Eles pedem socorro.
O colega perguntou como ele havia pulado o muro de uma casa onde praticara mais um furto já que a altura do muro era bem grande. Nem olhou para seu interlocutor, olhando para as árvores que não se detinham e passavam apressadas, disse: ¨ passava muitas vezes na frente daquela casa e estudava uma maneira de entrar, foi fácil ¨. Fácil !? O colega perguntou novamente, ¨ mas e o cachorro, como entrastes numa casa com um cão tão furioso, um pitbul l?¨ ¨ Foi simples, disse ele, sempre olhando para fora, com o olhar perdido nos borrões verdes, cachorros não saem de suas casinhas em dia de chuva. Eu esperei uma noite de chuva e pulando o muro, entrei pé por pé, furtei as roupas todas da área e fui embora¨.
Meu olhar encontrou o do colega pelo retrovisor e voltei a olhar para a estrada. Maldito crack.
Cães não saem de suas casinhas em dias de chuva. E não é que é verdade?
Dias depois, chuva forte, me surpreendi observando meus dois cachorros e por mais que fizessem barulho na frente da casa, eles só erguiam o pescoço, davam uma espiada e deitavam novamente suas cabeças no quentinho das casinhas! Uau !!

terça-feira, 30 de março de 2010

Não estamos mais esperando príncipes em cavalos brancos

Quando eu era pequena, minha mãe sempre sabia a hora certa de falar com meu pai para receber um ¨ sim ¨como resposta. E me alertava, ¨ agora não, deixa para amanhã¨.
Eu também agia assim com a minha filha e com seu pai.
As mulheres são assim: profundas conhecedoras da técnica de esperar o momento certo para tirar o peixe fora da água. Os homens, em contrapartida, acham que esperar um dia não é sinal de inteligência. E aí é que se enganam.
Não me cabe aqui revelar sobre as mulheres. Mesmo por que, choramos facilmente, rimos com o coração. Nem sempre quando dizemos ¨não ¨ significa que estamos dizendo ¨não¨. Descobrimos que um sorriso pode produzir milagres... e uma lágrima também! Nada mais comovente que uma mulher que chora, um sorriso pode desarmar um homem.. Damos à luz sob fortes dores e logo depois nos esquecemos.. Corajosas, frágeis e fortes, vamos à luta sem capacete e sem espada. Temos um coração ao lado do cérebro. Não temos músculos, temos garras. E agora me lembrei da loba. A loba é o símbolo da mulher madura porque defende sua prole de qualquer perigo ou ameaça , o lobo não!
Somos nossos próprios anjos protetores. Não buscamos igualdade. Mesmo se pudéssemos exercer várias profissões, há emoções que correm como turbilhões dentro de nós que jamais poderão ser experimentadas pelo sexo oposto, há a dor e o prazer de oferecer à luz do dia a um anjo!
Não, jamais haverá igualdade! Cada um que faça a sua parte, cada um tem a sua importância, nem maior, nem menor. Não estamos mais à espera de príncipes encantados em cavalos brancos! Há muito entendemos que esses só existem nos contos de fadas. O que queremos é simplesmente sermos amadas. Não nos preocupamos com músculos e caras, queremos alguém que possa nos amar. Nós mulheres, seremos sempre, jovens, idosas, maduras, imaturas, belas, feias, dengosas, charmosas, mimadas, vaidosas, apaixonadas ou não..., mas sempre vai pulsar no nosso peito esse coração de mulher. Coração que ninguém entende... , mas que sabe muitas vezes adivinhar a vida!
A Bíblia fala sobre a mulher. Passei muito tempo achando que a Bíblia gostava mais dos homens. Achava que se falava pouco nas mulheres da Bíblia. Imagina como se sentia a mulher de Noé, durante anos ele construindo aquela arca, era alvo de chacota de todos, e ela lá, firme como a rocha. Eva parece fraca e caprichosa. Dalila entregou Sansão aos filisteus (mas ela era uma filistéia!). Maria Madalena descrita como uma mulher possuída por demônios.
Quando leio a Palavra de Deus vejo hoje o quanto Ele foi bom com as mulheres. Ele disse que as mulheres são as colunas e os homens os cabeças (certamente muitas mulheres querem ser cabeça). Mas a sabedoria divina não falha. Pense comigo, a cabeça se move ou se vira para onde lhe torcer o pescoço (a coluna). As mulheres têm um grande papel na vida divina criada por Deus e a Bíblia diz que a mulher sábia edifica a sua casa sobre a rocha (quem é a rocha? Cristo). As mulheres novamente responsáveis pelas suas casas, filhos e maridos. A videira fala da mulher porque a raiz é sensível, precisa de terra seca (não gosta de umidade), traz sombra, frutos ( vinho e alegria). A parreira é boa, mas devemos dar condições e ter cuidado com ela nos primeiros anos em especial para que germine, cresça e prolifere. A partir daí, será rija, forte e protetora. Mulheres são videiras.

sábado, 23 de janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

A mulher madura


O rosto da mulher entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a antevejo no espelho de uma joalheria. A mulher com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, ela tem qualquer coisa de Melina Mercouri. Há uma serenidade em seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas, ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante ,faz muito barulho, joga muita água para os lados... A mulher nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe.
Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas a envolvem ternamente. Sabe a distancia entre o seu corpo e o mundo.
A mulher é assim.. Tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.. A adolescente com o brilho dos seus cabelos, com essa irradiação que sai dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher tem um som de adágio em suas formas. A boca da mulher tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto, suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície e seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos e apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos reveladores.
Cada idade tem o seu valor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago da juventude. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo. A mulher está pronta para algo definitivo.
A mulher experiente tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Deslocou-se da superfície das coisas. Merece profundidade. As jóias brotam de seu tronco, incorporam-se naturalmente ao rosto, como se fossem prendas do tempo. A mulher é um ser luminoso e repousante.
Pudera seus maridos e companheiros, voltassem mais cedo para casa, de seus escritórios e múltiplas atividades, deveriam voltar tão maduros quanto Paul Newmann ou Yves Mountand quando em seus filmes. Eles deveriam saber que perderam tempo em não esperá-las maduras.
( Dedico meu texto a todas aquelas mulheres maduras, de luta, de fibra, de sangue).