Entardecer do meu rio Jacuí...

Entardecer do meu rio Jacuí...
.. posso te afirmar que ¨contar histórias é trazer à baila, trazer à tona¨. Não é uma atividade inútil. Embora haja intercâmbio de histórias, quando duas pessoas trocam histórias como presentes mútuos, na maior parte dos casos elas chegaram a se conhecer bem.Alguns deitaram com a história e descobriram dentro de si mesmos e em profundidade todas as partes que se harmonizavam. Ao lidarmos com palavras e histórias estamos trabalhando com energia arquetípica, que é muito similar com a eletricidade.
Bem-vindo!

sábado, 9 de janeiro de 2010

A mulher madura


O rosto da mulher entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a antevejo no espelho de uma joalheria. A mulher com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, ela tem qualquer coisa de Melina Mercouri. Há uma serenidade em seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas, ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante ,faz muito barulho, joga muita água para os lados... A mulher nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe.
Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas a envolvem ternamente. Sabe a distancia entre o seu corpo e o mundo.
A mulher é assim.. Tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.. A adolescente com o brilho dos seus cabelos, com essa irradiação que sai dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher tem um som de adágio em suas formas. A boca da mulher tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto, suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície e seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos e apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos reveladores.
Cada idade tem o seu valor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago da juventude. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo. A mulher está pronta para algo definitivo.
A mulher experiente tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Deslocou-se da superfície das coisas. Merece profundidade. As jóias brotam de seu tronco, incorporam-se naturalmente ao rosto, como se fossem prendas do tempo. A mulher é um ser luminoso e repousante.
Pudera seus maridos e companheiros, voltassem mais cedo para casa, de seus escritórios e múltiplas atividades, deveriam voltar tão maduros quanto Paul Newmann ou Yves Mountand quando em seus filmes. Eles deveriam saber que perderam tempo em não esperá-las maduras.
( Dedico meu texto a todas aquelas mulheres maduras, de luta, de fibra, de sangue).

Um comentário:

  1. O fascínio da mulher madura está em saber ser doce e terna como uma gueixa, sem abdicar de suas conquistas e de sua força extraordinária. Ela lidera, porém concede, gentil,o sabor da liderança ao seu parceiro...

    ResponderExcluir